‘Se preparar para a negociação coletiva é tarefa permanente’, diz chefe do Ministério do Trabalho na Paraíba

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Superintendente Regional do Trabalho também falou sobre mobilização e participação das mulheres

O aprendizado do processo de negociação coletiva pelos dirigentes sindicais se dá na vivência das situações do dia a dia dos trabalhadores. A opinião é do superintendente Regional do Trabalho na Paraíba, Paulo Marcelo de Lima, e foi compartilhada com os participantes da edição de João Pessoa (PB) do projeto “Dirigindo & Transformando: Empoderando Trabalhadores(as) na América do Sul”, desenvolvido pelo Solidarity Center, em parceria com diversas organizações de trabalhadores(as) do Brasil. 

A capital da Paraíba sediou o terceiro módulo do programa de formação sindical do projeto. A atividade, que teve foco na Negociação Coletiva, foi realizada de 5 a 7 de agosto em João Pessoa.

“Quando comecei no movimento sindical, via que trabalhadores morriam de tétano após pisar em pregos, pois não tinham a vacina e nem botas adequadas; ou então morriam de quedas, pois faltava algo que não os deixassem cair; ou morriam de choque elétrico, porque os cabos não tinham proteção. Aprendemos que a negociação coletiva podia resolver tudo isso, mas tivemos de vivenciar essas situações no dia a dia pra saber o que negociar”, explica Paulo Marcelo.

Com mais de 35 anos de atuação no movimento sindical, que incluíram atuação no sindicato da construção civil de João Pessoa e passagem pela presidência estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT-PB), Paulo Marcelo lembrou que é fundamental que os novos dirigentes sindicais não confundam o conceito de negociação coletiva, mais amplo, e o tratem como um fórum principal ou exclusivo de negociação de pautas econômicas.

Muita leitura e alianças

O dirigente estadual do Ministério do Trabalho na Paraíba também destacou em sua participação no evento a importância da formação para o dirigente, justamente o objetivo principal do projeto “Dirigindo & Transformando”. Para Paulinho, como é conhecido o superintendente no meio sindical, a formação requer muita leitura e alianças com organizações que ajudem nesse processo de aprendizado.

“Quando se entra no movimento sindical, precisamos entender quais os objetivos e se vale a pena. Como eu vinha do local do trabalho e sabia o tamanho do sofrimento, meu e dos meus companheiros, foi fácil entender que eu estava ali pra tentar transformar. Precisei ler muito e fazer alianças que nos ajudassem a buscar essa transformação. Pra transformar, temos que fazer o que o Solidarity Center está fazendo, ou seja, formar”, diz Paulo Marcelo.

O chefe do MTb lembrou que uma dessas alianças foi feita com a Universidade Federal da Paraíba, o que proporcionou o acesso a outros órgãos importantes nesse processo de formação, como Ministério do Trabalho e Ministério Público do Trabalho (MPT), entre outros.

Novos desafios

O projeto “Dirigindo & Transformando” vem debatendo com seus participantes alguns dos principais desafios no processo de formação de novos dirigentes. Dentre eles estão a necessidade de atrair mais jovens e mulheres para o movimento sindical, em especial para os cargos de direção, e o uso cada vez mais constante de formas “online” de mobilização. Questionado sobre esse uso cada vez maior das redes sociais para esse fim, Paulo Marcelo foi taxativo.

“As formas modernas de mobilização, via redes sociais, são irreversíveis, mas a gente não pode perder de vista a presença, o diálogo, o aperto de mão, o toque. A relação com o trabalhador feita apenas via rede social fica muito fria. É um processo gradual, e enquanto não estiver consolidado, a mobilização presencial é insubstituível”, disse.

Mulheres

O superintendente do Trabalho também destacou que a dificuldade de atração de mulheres esbarra muitas vezes no fato de que o machismo ainda é muito arraigado no movimento sindical.

“É um tabu grande trazer mulher para as direções, pois o machismo ainda é muito impregnado no movimento. Aqui [na construção civil da PB]  conseguimos que algumas chegassem a cargos de direção. Mas ainda temos muito que avançar”, admitiu.

Para a secretária de Formação da CUT Paraíba, Vânia Medeiros, equidade é um tema relativo a todos os outros.

Não podemos pensar em negociação coletiva sem fazer a reflexão que é na mesa de negociação que se garante equidade, combate ao assédio e garantia de direitos para as mulheres. Quanto mais mulheres representando, maiores as chances de avançarmos”, frisou a sindicalista.

O curso

Formado por uma turma de 30 lideranças sindicais dos setores de plataformas digitais (entregadores/as e motoristas por aplicativos) e manufatura (indústrias dos ramos químico, metalúrgico, vestuário e construção civil), o programa formativo está dividido em quatro módulos que contemplam três grandes eixos temáticos: organização dos trabalhadores e trabalhadoras, negociação coletiva e comunicação sindical.

O quarto e último módulo do projeto “Dirigindo & Transformando”, que debaterá Comunicação Sindical, acontece em Recife (PE), de 25 a 28 de novembro.