“Somos machistas em desconstrução”

Debate sobre as diversas formas de discriminação das mulheres no mundo do trabalho abre módulo 2 do curso ‘Dirigindo & Transformando’ 

Fotos: Thainá Duete

O machismo no mundo do trabalho é algo que afeta todas as trabalhadoras e coloca sobre seus ombros uma carga difícil de suportar. No movimento sindical, o machismo estrutural também está presente em comportamentos e atitudes que afastam as mulheres das organizações e traz à tona uma reflexão urgente: até quando homens sindicalistas serão coniventes com práticas machistas?

Esse foi o ponto de partida do segundo módulo do curso “Dirigindo & Transformando”, que teve início nesta segunda-feira, dia 3, e segue até quinta, 6 de junho, em Fortaleza (CE).

Para promover a reflexão, foi aplicada uma dinâmica em que as cursistas foram convidadas a reproduzirem frases machistas ditas a elas no ambiente de trabalho ou em atividades sindicais. Os homens receberam as frases, sentaram-se em frente à secretária de Formação da CUT/Ceará, Nádia Souza, e as leram. 

“O objetivo da dinâmica foi mostrar aos homens como as frases ditas isoladamente ou ‘por trás’ soariam se expressadas publicamente”, conta Rosana Fernandes, especialista em Organização no escritório do Solidarity Center no Brasil. 

“Lemos frases que em algum momento das nossas vidas foram ditas por nós. O fato é que somos machistas: em desconstrução, mas ainda machistas”, frisou Josué Pereira, liderança sindical do ramo químico. 

Práticas machistas

“Ao tentar justificar o nosso próprio machismo, acabamos sendo ainda mais machistas”, expressou Nicolas Santos, membro da Aliança Nacional dos Entregadores Autônomos, ANEA. 

Questões como interrupção na fala, explicações óbvias buscando desmerecer o conhecimento de lideranças femininas, julgamentos machistas sobre comportamento social ou sexual, entre outras, foram abordadas no debate. 

“O constrangimento das mulheres na luta sindical é uma realidade, principalmente em categorias em que a presença feminina é mínima. As marcas do machismo são profundas, mas é preciso tocar nessa ferida para mostrar aos companheiros o quanto isso afeta a vida e o trabalho das mulheres”, afirmou Jéssica Andrade, dirigente do ramo da construção civil.